A PRIMEIRA VITÓRIA DE ITALO

Rip Curl Pro Bells Beach 2018, Austrália. Foto: WSL
Italo Ferreira faz história ao vencer a sua primeira etapa na elite mundial. Foto: WSL.

O potiguar Italo Ferreira é o novo campeão do Rip Curl Pro Bells Beach e badalou o sino do troféu da vitória conquistada numa bateria que fica marcada na história do esporte, pela despedida do tricampeão mundial Mick Fanning do World Surf League Championship Tour.

A praia estava lotada na quinta-feira, com toda a torcida e seus amigos esperando que ele encerrasse a carreira com um recorde de cinco títulos em casa. Mas, Italo vinha sendo o melhor surfista nas ondas de Bells Beach e na final comprovou isso, para ganhar sua primeira etapa e liderar a corrida pelo título mundial de 2018, junto com o australiano Julian Wilson.

“Eu nem consigo acreditar ainda nisso tudo. É incrível, a minha primeira vitória, o Mick Fanning é meu ídolo, nossa, estou muito feliz”, disse Italo Ferreira. “Eu tenho trabalhado duro nos últimos anos. Lembro da minha primeira final com o Filipe (Toledo) em Portugal (em 2016), estava tão perto da vitória, mas agora consegui. O ano passado foi difícil pra mim, por causa da minha lesão depois da Gold Coast, que me deixou de fora por dois meses. Foi terrível e trabalhei muito forte para me recuperar, então agora é o melhor sentimento, muita felicidade pela vitória neste lugar incrível e contra um cara iluminado na final, um herói”.

Italo agora vai competir com a lycra amarela do Jeep Leaderboard pela primeira vez no Drug Aware Margaret River Pro, que começa na quarta-feira (11), com prazo para fechar a “perna australiana” até o dia 22 de abril. Depois, os melhores do mundo vêm para o Brasil, para a segunda edição do Oi Rio Pro em Saquarema, de 11 a 22 de maio na “Cidade do Surf” da Região dos Lagos do Rio de Janeiro, que no ano passado terminou também com vitória brasileira de Adriano de Souza na Praia de Itaúna.

Italo Ferreira, Rip Curl Pro Bells Beach 2018, Austrália
Com o resultado, o brasileiro alcança a liderança do Tour e divide a posição com o australiano Julian Wilson. WSL / Sloane.

Mineirinho foi o primeiro e até então único brasileiro a vencer o Rip Curl Pro Bells Beach, em 2013. Ele balançou tão forte o troféu, que o sino acabou caindo de tanto badalar. Foi também, a primeira e única vez que isso aconteceu. O potiguar Italo Ferreira festejou bastante no pódio, tocando o sino da 37.a vitória do Brasil na história da World Surf League, a primeira do surfista de Baía Formosa em sua quarta temporada no grupo de elite que disputa o título mundial.

Italo foi criado em ondas para a direita como as de Bells Beach e vinha batendo seus próprios recordes a cada bateria, com o seu backside agressivo e vertical liquidando todos os adversários que enfrentou no último dia. Ele já tinha registrado as maiores marcas do Rip Curl Pro no duelo brasileiro com Filipe Toledo na terceira fase, 16,60 pontos com notas 8,50 e 8,10. Nas quartas de final que abriram a quinta-feira, atingiu 17,86 com 8,83 e 9,03 contra o havaiano Ezekiel Lau. E na semifinal com Gabriel Medina, ganhou 9,17 na melhor onda do evento na análise dos juízes, para derrotar o campeão mundial por 16,00 a 14,10 pontos.

“Eu só quero dizer obrigado Deus e dedicar essa vitória a minha família, minha namorada e todas as pessoas que tem me apoiado ao longo desses anos”, disse Italo Ferreira. “Eu sou uma pessoa muito feliz por ser este o meu trabalho e eu só tentei fazer o meu melhor nas ondas que surfei em cada uma das baterias. Eu sabia que tinha que continuar assim na final e o Mick (Fanning) é um dos meus surfistas favoritos, o melhor concorrente e só tenho que agradecer a ele por tudo que já fez para o nosso esporte”.

Italo Ferreira, Rip Curl Pro Bells Beach 2018, Austrália. Foto: WSL
Italo somou notas 8.33 e 7.33 na finalíssima. Foto: WSL

Decisão do título

Na grande final, a bateria começou lenta e a primeira série de ondas boas só entrou quando restavam 15 minutos para o término. Italo pega a da frente e manda uma batida muito forte que chega a se desequilibrar, mas continua em pé na prancha para uma sequência de mais duas manobras e outra explosiva na junção. Mick Fanning vem na de trás fazendo o seu surfe de borda com grandes manobras e a nota do australiano sai 8,10, contra 6,33 do brasileiro.

O potiguar escolhe bem outra onda limpa com potencial e começa com duas manobras potentes no outside para ganhar nota 7,33 e assumir a ponta. O australiano vem na onda de trás, mas não era tão boa e só consegue 4,73. Faltando 5 minutos, o tricampeão deixa passar uma para Italo, que destrói a onda do início até o fim, vibrando bastante na finalização. Os juízes dão nota 8,33 e ele abre 7,57 de vantagem sobre Fanning.

Depois, não entra mais nada de onda e Italo Ferreira festeja sua primeira vitória no CT, recebendo um grande e longo abraço de Mick Fanning dentro d´agua, com o australiano aplaudindo o brasileiro numa cena emocionante, digna de um cavalheiro como sempre foi um dos maiores mitos do esporte. Depois de tudo que passou naquele incidente do tubarão em Jeffreys Bay, seguiu competindo até anunciar sua aposentadoria definitiva do Circuito Mundial com um honroso terceiro lugar no ranking e poderia ser na liderança se vencesse.

“Foi um momento muito especial poder estar na final com toda essa torcida e melhores amigos aqui, mas estou feliz em ver o quanto essa vitória significou para o Italo (Ferreira), foi uma das melhores coisas que eu já vi em Bells”, disse Mick Fanning, após sua sétima final com quatro vitórias no evento do seu patrocinador. “Foi muito divertido surfar com todos que competi nesse evento, o Seabass (Sebastian Zietz), o Paddy Gudang (Patrick Gudauskas), o Wilko (Matt Wilkinson), o Owen (Wright). Foi realmente especial porque me sentia surfando com um amigo e foi incrível ver e sentir todo o apoio dos fãs. Obrigado a todos que tornaram isso tão memorável, foi uma carreira incrível e agradeço a todos”.

Italo Ferreira, Rip Curl Pro Bells Beach 2018, Austrália. Foto: WSL
Italo foi só emoção depois de superar o lendário australiano Mick Fanning, que disputou a sua última prova como Top. Foto: WSL / Sloane.

Os passos da vitória

Enquanto Mick Fanning se despede de quase 20 anos de carreira, com 22 etapas vencidas e três títulos mundiais conquistados, Italo Ferreira está iniciando sua trajetória. Para conquistar a primeira vitória, o potiguar teve que passar por dois desafios com surfistas que vinham se destacando no evento. O primeiro dos três passos do título na quinta-feira foi contra o havaiano Ezekiel Lau, que tinha barrado o bicampeão mundial John John Florence.

Foi neste duelo que Italo aumentou seus recordes em duas ondas seguidas. Na primeira, já mostrou seu backside vertical e agressivo nas direitas de Bells para aumentar a maior nota de 8,50 para 8,83. A seguinte foi melhor ainda e ele começa com uma pancada invertendo a direção do bico da prancha, arma uma segunda muito forte e completa um ataque explosivo numa junção cavernosa, ganhando nota 9,03 para atingir 17,86 pontos.

No duelo luso-brasileiro da bateria seguinte, Medina só pegou sua primeira onda quando restavam 13 minutos e escolheu bem, pois ela abriu uma parede limpa para detonar duas manobras muito fortes de entrada e seguir atacando com batidas e rasgadas de backside até o inside. Os juízes deram nota 8,83, mas ainda precisava de 4,34 pontos para superar a soma das notas 7,00 e 6,17 de Frederico Morais. E Medina consegue isso na onda seguinte, surfada cinco minutos depois, que valeu 6,90 para derrotar o português por 15,73 a 15,00 pontos.

Italo Ferreira e Mick Fanning, Rip Curl Pro Bells Beach 2018
Italo e Mick no pódio. Foto: WSL / Cestari.

Semifinal brasileira

Na semifinal brasileira, Italo pegou a primeira onda e abriu com uma batida forte embaixo do lip, seguiu manobrando até a finalização na junção e começou com 6,33. Medina também inicia sua onda com duas manobras fortes no outside e termina com uma mais explosiva na junção para largar na frente com 6,50. Com a prioridade de escolha da próxima onda, Italo deixa passar uma que abre uma parede em pé para Medina mandar uma série de seis manobras potentes de backside, lincadas com velocidade para receber nota 7,60.

Italo passa a precisar de 7,77 e pega a segunda onda boa dele, repetindo o ataque que vinha arrancando as maiores notas do Rip Curl Pro. Era uma direita da série, grande, e Italo arriscou tudo com seu backside vertical para aumentar de novo a maior nota do campeonato para 9,17. Agora, era o campeão mundial que precisaria de 7,91 para retomar o primeiro lugar. Medina já havia derrotado o potiguar duas vezes em Bells, na primeira e na quarta fase, então a expectativa ficou para o mar, se iria entrar mais ondas boas.

O potiguar entrou numa que o Gabriel deixou e aproveitou para trocar a nota 6,33 da sua primeira onda por 6,83, aumentando a vantagem para 8,41. Medina continuava aguardando no outside quando soou o sinal dos cinco minutos finais. Tudo indicava que teria mais uma chance apenas e ele pegou uma onda há 3 minutos do fim, com Italo vindo na de trás. Medina arrisca o aéreo na finalização que poderia dar a vitória, mas não completou e, por 16,00 a 14,10 pontos, Italo passou para sua segunda decisão de título em etapas do CT.

Vitórias brasileiras

O potiguar conquistou a 37.a vitória verde-amarela na história da World Surf League. Ele foi o 14.o brasileiro a vencer etapas válidas pelo título mundial da temporada, desde a criação do circuito em 1976. Gabriel Medina é quem tem mais vitórias, nove, seguido pelo também campeão mundial Adriano de Souza com sete, Filipe Toledo com cinco, Fabio Gouveia com quatro, os irmãos Teco e Neco Padaratz com duas cada um e Italo Ferreira é o oitavo a entrar na lista dos brasileiros que ganharam uma vez. Nela está outro surfista do Rio Grande do Norte, o natalense Jadson André, além do primeiro a festejar um título, o saudoso Pepê Lopes, na etapa do Arpoador do primeiro Circuito Mundial em 1976.

RESULTADOS DO ÚLTIMO DIA DO RIP CURL PRO BELLS BEACH:

Campeão: Italo Ferreira (BRA) por 15,66 pontos (8,33+7,33) – US$ 100.000 e 10.000 pontos
Vice-campeão: Mick Fanning (AUS) com 12,83 pontos (8,10+4,73) – US$ 55.000 e 7.800 pontos

SEMIFINAIS – 3.o lugar com 6.085 pontos e US$ 30.000 de prêmio:

1.a: Mick Fanning (AUS) 16.50 x 9.67 Patrick Gudauskas (EUA)
2.a: Italo Ferreira (BRA) 16.00 x 14.10 Gabriel Medina (BRA)

QUARTAS DE FINAL – 5.o lugar com 4.745 pontos e US$ 19.000 de prêmio:

1.a: Patrick Gudauskas (EUA) 11.67 x 11.44 Michel Bourez (TAH)
2.a: Mick Fanning (AUS) 13.77 x 9.33 Owen Wright (AUS)
3.a: Italo Ferreira (BRA) 17.86 x 11.50 Ezekiel Lau (HAV)
4.a: Gabriel Medina (BRA) 15.73 x 15.00 Frederico Morais (PRT)