MÉDICO COMENTA LESÕES DE JOHN JOHN E KOLOHE

Kevin Schulz e Kevyn Dean, San Clemente (EUA). Foto: WSL / USA Surfing
Kevyn Dean (à direita de Kevin Schulz) é o diretor médico da equipe norte-americana de surf. Foto: WSL / USA Surfing

Em entrevista concedida para Jake Howard, e publicada pela World Surf League (WSL), o diretor médico da equipe norte-americana de surf, Kevyn Dean, falou sobre as lesões de John John Florence e Kolohe Andino, que desfalcaram a delegação no ISA World Surfing Games em El Salvador e se recuperam para as Olimpíadas de Tóquio, no Japão, programada para começar no dia 25 de julho.

“Os dois passaram por cirurgias e falei com o Dr. Warren Kramer, que disse que eles têm potencial para que fiquem prontos e surfem bem a tempo para as Olimpíadas. Warren é um dos melhores que existem. Ambos já passaram por isso antes e se curaram rapidamente. Eles são quase como mutantes de super cura. Então, eles têm esse poder”, diz Dean.

Questionado sobre o aumento do índice de lesões em surfistas, o médico acredita que o conhecimento na área está melhorando. “Houve um estudo de pesquisa feito na Austrália e muito do que estamos começando a entender é como os problemas do quadril podem se traduzir em lesões em outras partes das extremidades inferiores, como joelhos e tornozelos – como vimos com John e Kolohe”, explica o profissional.

“De um ponto de vista anedótico, 93% dos surfistas que surfaram por mais de oito anos mostram sinais de que a perna de trás tem movimento rotacional significativamente menor do que a perna da frente, porque é de onde a maioria das pessoas controla a prancha. E rastreamos isso de volta ao quadril”, continua Kevyn Dean.

“Você tem que lembrar, quando você está tentando endireitar os ombros de backside ou fazendo uma rasgada de frontside, que a rotação deveria ter acontecido nos quadris e na coluna torácica. Mas, com a mobilidade do quadril inibida, as pessoas compensam com outras partes do corpo, que é onde surgem os problemas na parte inferior das costas ou nos joelhos. Os surfistas também tendem a ter ombros e dorsais realmente fortes devido à remada, o que também pode ser problemático. Então, do ponto de vista do treinamento, realmente tentamos nos concentrar nos quadris e no controle da amplitude”, comenta Dean.

John John Florence e Kolohe Andino. Foto: WSL / Steve Sherman
John John Florence e Kolohe Andino. Foto: WSL / Steve Sherman

O médico lembra ainda que os surfistas estão passando muito mais tempo na água hoje e há mais surfistas na água em geral. “O que vemos na clínica é que a maioria das lesões ocorre em dias de um a 3 a 4 pés (cerca de 1 metro). São coisas como tornozelos torcidos ou ossos quebrados. A maioria das lesões não está acontecendo no surf em ondas grandes, sabe, fazendo coisas malucas? Isso me leva a pensar ´Ok, então o que estamos fazendo de errado?´. E o que eu acho que está dando errado é que você pode associar o aumento da popularidade do treinamento para surfar com a taxa de lesões. As pessoas estão ficando mais poderosas sem quaisquer exercícios de suavização de lesões. Essa é minha perspectiva”, entende Dean.

As diferentes abordagens para o treinamento do surf também foram comentadas pelo médico. “As pessoas pensam que a intensidade é a chave e realmente não é. Eu sempre pergunto às pessoas ‘Por que você está treinando?´. E se alguém me disser que está apenas tentando ficar mais forte, essa é a resposta errada. Um atleta competitivo deve treinar para competir melhor, para que possa se sair melhor em seu esporte, seja o que for que isso implique. Não está tentando ficar maior, mais forte, mais rápido, mais rápido, eles estão tentando competir melhor. E essa deve ser a mentalidade. O surfe foi considerado um estilo de vida por muito tempo e não era tratado como um esporte. Embora todos saibamos que é um esporte, a discussão continua. Há quem diga que é uma arte. Não é um esporte. Não deveria ser um esporte olímpico. No entanto, o que estamos descobrindo é que, por causa dessa mentalidade, há recursos limitados sobre o que é adequado para o treinamento”, diz o médico.

“Infelizmente, nunca houve nada padronizado para o treinamento para o desempenho dos surfistas. Até mesmo os melhores surfistas estão procurando pessoas para treiná-los e treinar com eles. E, infelizmente, acho que isso permitiu o aumento de lesões que vimos. Se alguém está reforçando sua capacidade atlética ou velocidade, rapidez, explosão, amplitude de movimento, todo esse tipo de coisas, mas não está trabalhando para controlar tudo isso da perspectiva do movimento, então vai se machucar. Se, de repente, você tiver esse quadril super forte, mas não tiver trabalhado no controle de movimento, algo vai quebrar. Você vai ultrapassar a capacidade do sistema, por assim dizer”, avalia Kevyn Dean.

Treinamentos para Tóquio

O médico falou também sobre a dificuldade em reunir os Tops para treinamentos específicos para os Jogos Olímpicos. “Não há muito tempo entre El Salvador e as Olimpíadas. Infelizmente, a maioria dos surfistas do Tour está sempre viajando muito, então não acho que haverá qualquer chance de fazer algo juntos como um time até as Olimpíadas. Esperamos que eles cheguem um pouco mais cedo. Nesse caso, temos algumas coisas planejadas. Se pudermos chegar a Tóquio um pouco mais cedo, será ótimo”, diz o médico.

“Do ponto de vista do treinamento, como as agendas deles estão bem lotadas, vamos tentar fazer um monte de compartilhamento de informações e nos preparar dessa forma. Tem sido um pouco desafiador porque todos os dias recebemos um novo manual do Japão que diz: ‘Ok, é isso que você vai fazer agora. Você faz isso, isso, isso e isso, ok?’. Acho que as coisas ainda estarão no ar até chegarmos lá”, continua Kevyn Dean.

Outro assunto abordado pela WSL foi a polêmica no Japão com a realizações dos Jogos. “Você lê diferentes blogs e diferentes meios de comunicação, postagens na mídia, e alguns dizem que as Olimpíadas estão suspensas e outros dizem que estão. Tudo o que ouvimos sobre o lado olímpico é que definitivamente vamos. Não há nem dúvida… mas vou me sentir muito melhor quando estivermos caminhando na Cerimônia de Abertura”, conta Dean.

Fonte: World Surf League.